“Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo”

Oração ao Tempo, Caetano Veloso

O tempo é um elemento central da clínica lacaniana, e pretendo aqui abordá-lo em quatro de seus desdobramentos, a começar pelo:

Tempo da sessão

Conforme abordamos no artigo anterior, quando falamos de análise estamos falando de um texto que compõe a história subjetiva do paciente, um texto produzido entre analista e analisando, e que como qualquer outro, precisa de pontuação.

O fim da sessão é um ponto final, e marca o sentido do que foi dito até ali. Caso se continue a sessão além desse ápice lógico, seu sentido se perde, de modo que pontuar o texto do paciente é um ato imprescindível para colocar as coisas no lugar. A sessão seguinte é como o início de uma nova frase.

Por esse motivo, o tempo de uma sessão pode ser muito mais breve do que a hora que foi reservada na agenda para aquele paciente. O que importa, afinal, não é cumprir o horário objetivo do relógio, e sim cortar o texto bem ali onde interessa, o que nos leva ao próximo tópico:

Frequência das sessões

A frequência ideal para a análise é de uma sessão por semana.

As sessões precisam ter essa distância mínima de sete dias entre elas, não para que o paciente acumule mais novidades a serem compartilhadas, mas para que haja tempo de se reorganizar a partir de onde a sessão anterior se encerrou.

Mas esse intervalo não deve superar quinze dias (idealmente seriam sete), para que esse movimento continue acontecendo.

Ao discutir a frequência, é importante ressaltar que o trabalho de análise também acontece nesse período entre as sessões, enquanto o paciente elabora tudo aquilo que foi construído no consultório. Quem nunca falou sozinho durante a noite, imaginando o terapeuta? O efeito da análise conta com esse tempo intervalar.

Temporalidade do inconsciente

O inconsciente, para Freud, é atemporal. Com isso, o médico alemão queria dizer que não importava há quanto tempo algo tivesse acontecido, no inconsciente um evento poderia surtir efeitos décadas depois.

Na teoria lacaniana o passado, por si só, não existe, somos nós quem vamos construindo essas narrativas do que se passou, a partir de como interpretamos o presente. Portanto, a memória é flexível diante do verbo, assim como tantos outros aspectos da vida humana.

De qualquer forma, é sempre interessante que o analisando se desprenda da ideia de “contar novidades”. Se uma pessoa sentir a necessidade de falar dez mil vezes sobre algo que lhe ocorreu há cinco anos, ela pode. Se quiser falar do que aconteceu ontem, pode também. O ponto é: trata-se de um exercício de constante reelaboração do passado que molda o presente e implica no futuro, tudo ao mesmo tempo.

Tempo de análise

Por fim, durante quanto tempo se deve permanecer em análise? Essa é a pergunta mais fácil de responder, pois não há um prazo certo. Meses, anos… vai de cada um, de cada demanda, de cada estilo de comunicação.

Mas uma coisa é certa: não se pode apressar o inconsciente, pois não se pode apressar a relação que se forma entre analista e analisando. Formar essa relação pode levar tempo, e desde que você não odeie muito seu analista, vale a pena confiar no tempo, tambor de todos os ritmos.

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